segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Despaís: como suicidar um país

Recomendo uma leitura deveras interessante sobre um livro de ficção inspirado na realidade, é uma comédia negra, trágico-cómica sobre a situação e o futuro do nosso país.
Chama-se "Despaís: Como suicidar um país", de Pedro Sena-Lino, um emigrante português em Berlim que escreveu este romance-provocação e o dedicou "aos valorosos e geniais gestores e servidores públicos do meu país: sem a sua iluminada direcção, o que seria dele hoje? A todos os portugueses que nos últimos anos se viram obrigados a mudar de terra".
A teoria do livro é basicamente sobre um país que não consegue pagar a sua dívida e se vê despojado das suas gentes que emigram e velhos que morrem e se vê empobrecido e desertificado e vendido a retalho ao estrangeiro, então veio-se à ideia do povo a ideia de fazer um referendo para ver se se acabava com o país.


"A crise financeira de 2008 tinha dado lugar a outra bem pior, a crise da dívida soberana. O euro, moeda da união, tornou-se a moeda da divisão. Os estados-nações, assentes na soberania nacional e num sistema de mitos, com a perda da primeira voltaram-se para o segundo: os nacionalismos explodiam, a erosão do sistema político pronunciou-se, mesmo em estados fortes. A globalização fechou os países em si mesmos: e nos países vigiados por programas de ajustamento, como Portugal, tensões nacionais ontológicas explodiram. Ora, se um Estado não cumpria as suas funções, e, sobretudo, fazia com que os cidadãos fossem responsáveis pela sua sobrevivência através de impostos opressivos, faria sentido haver país? O Estado, como o grupo de todos os indivíduos, era agora uma máquina contra o povo e cada indivíduo. A própria ideia de Estado como até aqui se conhecia continuaria lógica? Se Portugal dependia exclusivamente dos credores, sendo incapaz de manter qualquer tipo de produção sistemática, e de autonomia real, faria sentido o país continuar como tal? Uma existência vazia?E a emitir dívida sobre dívida em nome de uma entidade funcional e simbolicamente moribunda, o Estado Português?
Já não somos governados sequer por um ditador: mas por títeres geridos por instituições financeiras sem rosto. Os estados soberanos morreram com a crise da dívida soberana, não é claro? sem soberania, o que valia a ideia de nação?
Se o país acabasse, acabava a dívida. Se não houvesse país, ninguém seria responsabilizado pela dívida, quer pessoal, quer das instituições nacionais.
Ameaçaram Portugal de expulsão da União Europeia caso o referendo fosse aprovado. E se o país se auto-destruir, gostaria muito de de saber o que vos restaria para expulsar. O Camões?
O problema de Portugal? É ter existido sempre inchado. Conquistámos o último território em Portugal, no Algarve em 1248. Foram 167 anos, 167 anos até percebermos que o país não se valia a si próprio, não chegava, e então atirámo-nos para o norte de África, Ceuta, 1415. Depois, 560 anos, mais de metade da vida do país, fomos maiores que este rectângulo. E veja como acabou: 1974, descolonização, e um país que não se paga a si mesmo.
Na rua a multidão repetia a frase: "Nós somos o povo que inventou o mundo".