A miséria na Grécia alastra de dia para dia: as ruas enchem-se de sem-abrigos, sendo que só na capital Atenas já há mais de 20 mil sem-abrigos...ao mesmo tempo a taxa de suicídio aumentou 40% e as organizações de solidariedade estão a ficar sem meios.
Há uma nova vaga de sem-abrigos nas ruas de Atenas, é que se antes da crise o perfil do sem-abrigo revelava traços de alcoolismo, toxicopendência ou problemas psiquiátricos, hoje o retrato psico-social é bem diferente: cada vez há mais gregos a viver na rua que outrora tiveram uma família, uma casa e um emprego estável, alguns até com formação universitária. Muitos dos sem-abrigos passam até as intermináveis horas e dias na rua a ler os livros que trouxeram de casa antes de ela ser penhorada pelos bancos.
Todos os dias há caras novas a deambular desesperadas pelas ruas da amargura de Atenas, a maioria são trabalhadores da construção civil ou por conta própria, proprietários de pequenas e médias empresas, desempregados, reformados e jovens que nunca tiveram sequer oportunidade de ter o 1º emprego.
Mas os gregos, ao contrário dos amigos europeus que se diziam reger pela solidariedade inter-nação, vão-se ajudando como podem, os próprios sem-abrigos guardam comida para outros mesmo que eles também passem alguma fome e as doações de comida, água, mantas e roupa também aumentaram.
No próprio metro de Atenas as pessoas colocam os bilhetes de metro que usaram na viagem (com duração de 90 minutos) em cima das máquinas de validação para que outras pessoas o usem.
Muitos sem-abrigos e recém despejados vêm no suicídio a única opção: antes da crise em cada quatro telefonemas recebidos pela linha de prevenção de suicídio, apenas um se relacionava com insuficiência financeira, hoje são 3 em 4.
Mas uma coisa é certa: em todas as situações em que a Grécia esteve mal, quando foi ocupada, invadida, abusada, insultada e humilhada, um pouco à semelhança de agora, os gregos conseguiram dar sempre a volta por cima. Foi assim durante a ocupação do império bizantino, depois otomano e a ocupação alemã da II Guerra.
Devemos mostrar todos apreço, respeito e solidariedade pela bravura e coragem que o povo grego tem tal como qualquer europeu que se preze deveria ter: somos todos gregos!
"Somos todos gregos: é na Grécia que estão as raízes das nossas leis, da nossa literatura, da nossa religião, das nossas artes." Percy Bisse Shelley
fonte: Público 12 Março 2012
