segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Vida de Universitário

Para a maior parte das pessoas a universidade representa um momento alto das suas vidas: fazer novos amigos, festejar todas as noites ou todas as semanas acompanhados de alguma dose de álcool e piadas superficiais que rasgam largas gargalhadas. Na verdade, é na Universidade que se dá o derradeiro passo para ser aceite pela sociedade juvenil: se nunca fizeste algo antes, agora é o tempo de o fazer! Tudo na Universidade é intenso e até há pessoas que dizem que é a altura da nossa vida em que formamos a nossa personalidade para o futuro em diante. É também a altura em que se fazem amigos para a vida.
A maior parte das pessoas recorda-se da Universidade como o domínio no espaço e no tempo em que viveram os melhores e mais felizes episódios da sua vida.
O que é que eu posso dizer sobre a minha perspectiva? Mais uma vez, tendo a discordar, mais que nunca.
Creio que muito poucas expectativas foram correspondidas, nomeadamente, as mais importantes: as académicas...não é exagero dizer que sinto que nada aprendi em tanto tempo. Tudo naquela faculdade que deveria ser de Ciências incide sobre uma teoria completamente absurda, complicada e desinteressante...não nos são postos desafios realmente de engenharia ou de ciência, e praticamente nada é aplicado a coisas reais com significado vitalício para além de fórmulas hiper -complicadas que continuam a ser mudas e a nada nos elucidar! De facto, o cúmulo este ano foi ter uma cadeira, cito o nome atribuído: Energias Renováveis, mas que apesar de uma bibliografia até interessante e em inglês escrita por um dinamarquês, em nada ajudava lê-la para passar aquela cadeira com exercícios inventados em que nos pediam estimativas sem dados suficientes entre outras coisas e os slides das aulas não tinham quase nada para estudar. O cerne da questão é que de facto mal se falou em energias renováveis, falou-se sim em cálculos interessantíssimos de declinação solar, azimutes, etc. Bem como tínhamos de fazer cálculos de rendimentos que sem dúvida exigiam que pensássemos...o problema é que não tivemos uma formação adequada a isso. Mas isso sempre foi assim na faculdade.
Resumindo a cadeira de Energias Renováveis nada me ensinou e nem sequer se falou de forma mais ou menos elaborada como funcionam os vários tipos de energia!
Mas as coisas não ficam por aqui, também tive outra cadeira que achei que devia ser interessante pelo nome: Alterações Climáticas, mas que de facto não era alterações climáticas, o professor que nos deu aquela cadeira era sim um louco de fórmulas, mais um teórico: enchia o quadro de fórmulas e depois não lhe conseguia dar grande sentido numa abordagem quotidiana, ele sabia bem demonstrações lá sabia, mas não dava vida às equações e de facto não as enquadrava em física! Bem quase tudo era sobre clima, meteorologia física...mas alterações climáticas? bem o mais perto que se falou foi dos ciclos de Milankovitch (de precessão do eixo da Terra), do El Niño e La Niña e que o Sol às vezes provocava um aquecimento ou arrefecimento consoante a sua actividade e os vulcõezinhos também ajudavam à festa. Depois de acabarem as aulas da cadeira fiquei incrédula! Não tínhamos falado da influência das actividades antropocêntricas no clima! Ignorou-se completamente! Nem se falou do protocolo de Quioto, da evidente concentração de CO2 na atmosfera proveniente da indústria e transportes!
Numa altura em que estamos cada vez mais perto de atingir o limite de 450 CO2 eq na atmosfera, que o aumento de 2 graus à escala global é inevitável, numa actualidade dominada por episódios violentos da natureza causados pelo clima (furacões pela primeira vez no Brasil, furacão Katrina em Nova Orleães, cheias pelo mundo inteiro e submersão do Bangladesh, pedaços de gelo do tamanho de estados americanos como o Larsen B são desagregados das calotes polares e derretem), numa altura em  que os dois maiores poluidores do Mundo não assinaram o protocolo de Quioto (EUA agora sós depois de mais recentemente a Austrália ter assinado ) e muitos países ainda não conseguiram cumprir as metas até 2012! Ignorou-se completamente o assunto!
Mas daquela faculdade apesar de muitas pessoas marrarem imenso e tirarem óptimas notas, continuam a não querer encaixar conhecimento na vida do dia a dia e é quase missão impossível ter uma conversa minimamente com interesse com elas, é que tomei conhecimento de algumas pessoas que chegaram ao ridículo de negar as recentes alterações climáticas como algo causado pela Humanidade!!!
Se o CO2 é um gás com efeito de estufa, e se os nossos carros a gasolina libertam CO2 então eles vão para atmosfera certo? portanto causam aquecimento...(estufa!).Não?




"Apesar de a ciência nos dizer que temos de reduzir drasticamente as emissões, neste momento estamos no caminho errado. As emissões globais estão a acelerar. Na década em que Quioto foi concebido e assinado, a década de 1990, as emissões com efeito de estufa de combustíveis fósseis e da indústria cresceram a uma taxa de 1,1% ao ano. No começo da década de 2000, tinham crescido mais de 3% por ano e continuam a aumentar...A atmosfera já contém cerca de 430 ppm de gases com efeito de estufa. Para evitar as consequências piores das alterações climáticas teremos de parar no equivalente a 450 ppm. Falando em termos aproximados, para este número ser alcançado os países industrializados terão de reduzir até meados do século as suas emissões em 80% relativamente aos valores de 1990." in Hot Topic como combater o aquecimento global de Sir David King e Gabrielle Walker


Como se pôde ignorar isto?
Realmente a maior parte das coisas que sei sobre ambiente foi devido única e exclusivamente à minha pesquisa.
Inclusivamente o meu professor de economia teve o desplante de dizer que a história do Buraco do Ozono era uma manobra da economia para vender novos frigoríficos (aqueles que não emitem CFC)! Claro que o ser egoísta como ele e Adam Smith se referem aos membros da sociedade não inventariam uma tecnologia nova para ajudar o ambiente mas sim os seus bolsos?
É isto que querem formar? meter-nos na cabeça que somos todos egoístas, lutar cada um para o seu lado, tentar ser melhor que os outros a todo o custo e competir como se fosse uma questão de sobrevivência por um hipotético lugar numa empresa onde de novo se estratificariam lugares e se hierarquizavam a importância de cada um? é formar ignorantes, marrões que só empinam fórmulas e demonstrações?

Ao longo da minha experiência académica tive também de lidar com os critérios de avaliação e correcção mais ridículos possíveis: por exemplo, este ano, a uma cadeira tínhamos um exame constituído por duas partes: a primeira eram 5 múltiplas e a segunda parte eram exercícios, o problema é que só olhavam sequer para os exercícios de passássemos na primeira parte, ou seja, o máximo que podíamos errar eram 2 múltiplas! Com múltiplas a descontar e como ou até podia haver mais que uma resposta certa, podiam estar todas certas ou todas erradas...muita gente nem lhes foi corrigida a segunda parte!
Também se não fizermos trabalhos nem podemos ir a exame, se fizermos trabalhos e chumbarmos no teste pratico não podemos ir a exame...
Outro fenómeno interessante, nunca em toda a minha vida conheci tantas pessoas e falei com tantas apesar de as conversas serem para papaguear o "Olá tudo bem?" vezes sem conta. Conheci muita gente, muito diferente, mas ambas mostraram que tinham alguma aversão a que pessoas dissessem a sua opinião, especialmente quando essa opinião era diferente da delas, e isso vai dos vaidosos e arrogantes praxistas ao pessoal anti-system que se inspira nas vestes dos anos 70 e no grunge. 
Sou daquelas pessoas que diz o que pensa sem eufemismos, com a maior frontalidade que consigo...muitas vezes isso também me traz problemas e é isso a que se deve a minha impopularidade.
Outro aspecto importante é o facto de para além do processo de conhecer coexistir o de desconhecer, ou só conhecer às vezes. É o seguinte: umas vezes as pessoas falam-se, outras fingem que não se conhecem e assim de vez em quando conhecemo-nos, de vez em quando não. Nunca conheci e desconheci tanta gente!
Por isso mesmo sou a outsider da faculdade, tenciono estar o mais longe de pessoas para as quais não tenho paciência alguma.
A competição é uma constante. O futuro? a maior parte tende a ver o futuro só como deles e vêm-se como mais um mero empregado destinado a dar lucro a uma qualquer empresa enquanto faz a vida como sempre a conheceu, igual aos seus pais, fechados naquele Universo quotidiano, sem sairem da sua vidinha.
Parece que cada um puxa a corda para o seu lado no instinto primitivo de sobrevivência que se resume a status, posição social e reconhecimento. Já na faculdade começam a competir de imediato para um possível emprego e em vez de se unirem esforços e vontades fragmenta-se tudo.
Não aturo esse tipo de pessoas, como a maioria é assim evito a sua presença.   
Eu já tentei mudar e não resultou não posso ir contra a minha natureza e descobri que de facto eu não quero mesmo ser aceite em nenhuma elite ou grupo. 
Estou cansada de toda aquela repetição de tudo e vai-me faltando a força e paciência, tentei dar-me com todo o tipo de pessoas mas não dá mesmo.
Detesto tanto as minhas vivências passadas e actuais na faculdade ao ponto de nem conseguir sair com o pessoal da faculdade.  
Quase toda a gente agora só sai com os novos amigos da faculdade o que é natural tendo em conta que quase não passamos tempo fora dela e acabamos por nos dar com as pessoas de lá mas que eu queria é uma desintoxicação de tudo aquilo, depois das aulas não me vejo a sair com alguém que me lembre aquele sítio.
 Parece que a faculdade de hoje em dia é mais um processo de domesticação mental com destruição do espírito criativo e crítico e o que se traduz na perda da essência nata na procura pelo conhecimento.
 Por isso quando a faculdade acabar (todos os dias sonho com esse dia), eu não terei saudades!